E aí, beleza?
Espero que esta carta te encontre bem e com saúde. Já tinha um tempo que eu pensava em começar uma newsletter, porque o alcance de certas mídias sociais tem ficado cada vez mais risível (e, no fundo, elas nem são exatamente o lugar onde você pode escrever textão solto e ser engraçadinha, muito embora eu sempre tenha tentado fazer isso em alguma medida).
Toda vez que pensava isso, no entanto, me constrangia quão clichê é vir com esse papo em pleno 2022, período em que periga você abrir a geladeira pra pegar um copo d’água e encontrar uma newsletter nova que diz “meu engajamento está morto, tens o que é necessário para vender o meu produto?”. Então, pensei que o folhetim existe há dois séculos e as pessoas ainda tão aí comentando a novela todo dia, então talvez não tenha tanto problema. Morte, vida, amores, fofoquinhas e epístolas: tem coisas que se repetem bastante mesmo.
Essas cartas vão falar de carimbos, mas não só. Acho que eu fiquei com vontade de conversar mesmo, porque tenho estado meio triste. Além disso, este ofício de carimbeira é solitário e eu considero todos vocês um pouco como meus colegas de firma. Outra discussão que já está dando o que tinha que dar, mas segue aí: as marcas são pessoas? As pessoas são marcas? A gente tem que viver a vida toda para o trabalho? etc. Responde me contando o que você acha.
Enquanto escrevo estas mal traçadas linhas, fico pensando no quanto gosto de escrever e lembro de um episódio da infância: uma tarde entediada da pequena Marceli, ali pelos seis ou sete anos. Lembra como era ficar entediado nos anos 1990? Tem uma coleção de revistas Atrevida que era das minhas irmãs mais velhas e que eu devo ter lido, sem mentira, pelo menos vinte vezes cada. Com força, consigo lembrar exatamente do leiaute de algumas matérias – tinha uma muito boa sobre primeiras vezes, num fundo cinza com fotos de rosas (desde o botão até a rosa aberta), e os tópicos: o primeiro amor, o primeiro beijo, a primeira briga. A primeira newsletter. Enfim, não é sobre isso que eu queria falar: estava lá eu, criança e entediada, e resolvi que ia escrever um livro.
Peguei um caderno brochura, uma caneta (ou lápis? acho que nessa época eu ainda não tinha me promovido a escritora com caneta, isso era uma coisa pra quando a gente chegasse na **quinta série** e pudesse usar um **caderno universitário**). Pensei que precisava me inspirar, porque era a ideia que tinha de quem escrevia livros. Pensei então que, para me inspirar, precisava de um lugar especial, e aproveitei que a mãe estava limpando o galinheiro e ele estava vazio. Subi no poleiro, apoiei o caderno nos joelhos e comecei a escrever meu livro, sobre uma menina que encontrava um pote de ouro. Aí as galinhas começaram a voltar e precisei sair, então me empoleirei num gigantesco pé de figo, que era meu lugar favorito de subir em casa, pra continuar escrevendo. Acho que, no total, deu um parágrafo. Me entediei de escrever um livro, larguei o caderno e devo ter ido ler uma revista.
Agora, quando lembro disso, fico pensando que talvez tenha começado a história pelo fim, e por isso ela não rendeu tanto. O que pode acontecer quando a menina encontra o pote de ouro na primeira linha? Isso me tranquiliza um pouco ao pensar que talvez eu não precise começar isso aqui com a carta perfeita e derradeira. E é bom, porque eu quase desisti de terminar esse texto umas três vezes.
Mas chega de pesar a lombra do leitor. Vou testar colocar umas variedades aqui pra ficar meio ~newsletter. Responde me contando o que você acha.
Sabia que a música Eva (Eva), da Banda Eva, eternizada no Banda Eva ao vivo de 1997, é a versão brasileira de uma música italiana? Essa obra-prima da ficção científica criacionista é adaptada de uma canção do Umberto Tozzi e a letra ficou bem parecida. O Tozzi parece um pouco com o David Bowie, mas não sei se eu não pensaria isso qualquer loiro vestindo paletó.
Olha esse trabalho do Saul Steinberg, que fez altas capas pra New Yorker. Acho um barato e quero copiar, inclusive. Se você começar a ver umas Burocratas Artes Visuais, já sabe onde estou me inspirando.
Original do “Rubber Stamps” portfolio, The New Yorker, 3 de dezembro de 1966.
A lojinha de carimbos tá lá com vários carimbos, e outros devem aparecer logo. Um plano é fazer mais modelos de carimbo ex libris personalizáveis, como o do pássaro, que saem mais em conta, então queria saber quais temas e estilos de desenho não podem faltar nessa. Aproveita pra responder me contando o que você acha.
Por hoje é só. Se gostou, dá pra assinar e receber sempre no email. Ou voltar aqui e ficar lendo sempre que tiver algo novo (semanalmente, eu espero).
Um beijo,
Marceli
gratidão universo por deixar a marceli meio triste (é mais fácil fazer uma piada sem graça do que falar que amei sua carta)
uma newsletter só para carimbos está para chegar