Ôopa! Bão?
Por aqui, o departamento de aturação de parabéns não aguenta mais tanto bolo, a terra está seca e os brotos seguem sendo pisoteados, a esperança segue existindo porque é teimosa (e talvez um pouco descolada da realidade mesmo). Mas estou em Belo Horizonte e isso é sempre bom, porque, entre outras coisas (doce de leite, pão de queijo recheado com pernil, a camisa do Cruzeiro), volta e meia você se depara com um desses lúdicos supermercados da rede EPA, o que sempre desperta o mais genuíno sorriso:
Não vou negar, também, que entre o cenário sulista de muito frio chuvoso e esses dias de trem céu azul e sol aparecendo – uma bola branca a deslizar deliciosamente pelo céu tal qual uma peça inteira de queijo canastra –, até que me dei bem (frases digitadas usando camiseta e short curto. dsclp ao resto da galera). Fui hospedada por grandes amigos em Santa Tereza e não pude deixar de notar um tema recorrente na vizinhança: tem o Bar do Bolinha, tem o Bar do Bolão e, como não poderia deixar de ser, tem o Bolota's Bar. Talvez meu olhar esteja mais direcionado para essas esferas todas porque antes de vir pra cá eu testei uns carimbos de retícula para fazer uma releitura carimbada do cartaz do Festival NUH!. Tem o processo todo num reel do Instagram, mas dá pra ver um detalhe dele aqui:
Retículas são esses pequenos pontos, usados para lidar graficamente com coisas como meio-tom e impressão em quadricromia. De vez em quando, a gente precisa de algum nuance, um tom de cinza, um degradê. A retícula é um efeito visual que, se me permitem a viagem, é quase poética, porque consegue fazer com que centenas de pequenos pontos possam ser organizados de modo a criar figuras novas. No século passado, quadrinistas (estes seres antiquíssimos) usavam retícula para colocar efeitos de sombra nos desenhos. Os padrões vinham estampados em cartelas de decalque (tipo Letraset) e, aí, era só riscar por cima da área que você quisesse deixar em tons de cinza.
A impressão offset também utiliza a retícula, e aí não só para criar meio-tom, mas para dividir uma imagem colorida em quatro cores: ciano, magenta, amarelo e preto (o famigerado CMYK). A sobreposição desses pontinhos, em diferentes ângulos, é o que dá origem a uma imagem colorida, e isso pode ser feito tanto por uma impressora quanto em processos mais analógicos, como o silkscreen e o carimbo (aguardem). A explicação pode ficar mais longa e mais compreensível, mas eu quis transmitir a experiência fugidia de uma pessoa da indústria gráfica tentando te explicar (no fim, tem uma parte de você que precisa apenas confiar).
A retícula nos oferece uma ilusão de ótica muito divertida, já que, olhando de longe, você vê uma imagem completa – seja um degradê, seja uma foto colorida – mas, olhando bem de perto, dá pra ver ela é composta por um monte de pequenos pontinhos. Dependendo de quão grandes e pequenos, aproximados ou afastados eles estejam, o efeito visual muda completamente. O modo como esses pontos são sobrepostos também faz diferença – e essa parte dá pra ver bem na imagem do cartaz do NUH! ali em cima. Esses carimbos são três tamanhos de retícula num formato circular que mede mais ou menos 2x2cm. Dá pra brincar bastante. Fiz uns três ou quatro kits para levar na Funarte e ver se colam, meio que um laboratório de desenvolvimento de produto in loco. Daí que vamos para o real motivo desta carta, que é um convite:
NUH! é um festival de arte gráfica que vai rolar em Belo Horizonte nos dias 16 (hoje, daqui a pouco), amanhã e domingo (dias 17 e 18 de junho) na Funarte-MG (ali pertim da Praça da Estação). A programação tá excelente: vai ter roda de conversa, lançamento, até um rolê onde você pode levar uma camiseta para estampar. Além de esta que vos fala estar numa mesa com todos os carimbos que fazem a cabeça da galera, também vai ter Burocrata na mostra de vídeos com esse aqui, de 2017, que talvez cê já tenha visto (e se não tiver, aproveite pra conferir). É a primeira vez que ele vai passar numa tela grande, então tem tudo pra ser um desses minutos muito bonitos da vida:
É isso. Te espero lá. Quem chegar acompanhado de algum membro da banda Skank (ou de sua entourage) ganha um carimbo.
Fechando o círculo desta missiva, fico por aqui desejando um bom fim de semana (ótimo é só pra quem colar na feira mesmo) e mandando aquele abraço.
Até,
Marceli