Há meio ano que não chega mais Burocarta nenhuma em sua caixa de entrada. Quase que o ano vira sem ela – ontem, dia 30, no fim da tarde, estava terminando de preencher venda em livro-caixa e fazendo repasse de porcentagem, indicativo bastante claro do quanto tudo esteve sob controle neste ano de 2023, especialmente no segundo semestre. Mas este ano, mistura de gincana do programa do Faustão com touro mecânico configurado por alguém de mau humor, não conseguiu me derrubar mais vezes do que eu me levantei, toda capenga e jurando vingança, e por isso estou aqui pra dar as caras, apresentar o relatório anual de atividades e, talvez, até arranhar umas promessas públicas para 2024.
Em janeiro, a novidade da firma foi a série de produtos em parceria com o Manual do Usuário. Teve uma cartinha com memórias digitais pra falar de outros tempos tecnológicos e o lançamento do fórum da Burocrata, no estilo daqueles fóruns dos anos 2000 onde fazíamos amigos. O fórum foi um fracasso retumbante e acabou invadido por usuários escrevendo coisas em alfabeto cirílico meses depois, mas os carimbos ficaram legais demais – veja aqui os quatro modelos – e, depois, o Manual do Usuário lançou o Órbita, bem mais legal e prático pra conversar & fazer amigos & viver uma internet mais saudável.
Fevereiro já começou com viagem e Feira Urucum – a primeira da Burocrata em Belo Horizonte –, coisa linda organizada pela Impressões de Minas com um monte de editora independente legal (comprei um livro da Mazza Edições chamado Assim se benze em Minas Gerais que minha mãe usou pelo resto do ano pra espantar tormenta). Outro excelente momento (eu AMO Belo Horizonte com todas as forças) foi visitar a Pampulha e ficar meia hora sentada olhando aquele Portinari (foi nesse ano que eu redescobri ele; essa coisa besta de subestimar obras que vemos a vida toda em todos os livros da escola e redescobri-las, depois, embasbacados. rolou a mesma coisa com o Graciliano Ramos). Outra coisa que eu não lembrava mas vi aqui pela galeria de fotos foi que em fevereiro eu positivei pra Covid pela primeira vez (pelo menos, num teste). Doideira.
Dois grandes momentos do ano desta empresa aconteceram em março: a comemoração de um ano da Livraria Divertida, lar oficial da nossa criança interior, quando estreamos um expositor grande e muito bonito que ainda tá por lá (confira!); e o dia em que postei fotos do best of (Marx Libris, Foda-se etc.) no Twitter como quem não queria nada (queria sim, queria pagar o aluguel do mês) e converti horrores, levando quase duas dezenas de caixas ao correio naquela semana, fora a overdose de dopamina vendo as atualizações de curtidas chegando (sem ser uma situação de cancelamento, o que é ainda mais comemorável).
Em abril, a Burocrata patrocinou as camisetas do time de voleibol do sobrinho da Burocrata e teve a primeira experiência de logotipo estampado em camiseta (e o rapaz ainda joga bem!!). Também passamos a habitar um dos nichos da maravilhosa Livraria. Em situação de xadrez da alma, fez-se necessário um xabablau.
Maio começou com um relógio de Salonpas e a produção a todo vapor para a feira Motim, em Brasília. A edição da seca aconteceu na Galeria dos Estados e foi um absurdo (eu AMO a feira Motim com todas as forças). Eu já rasguei seda no convite que fiz por uma das Burocartas, mas Brasília é muito querida com nossos carimbos e sempre nos recebe bem demais (além da alegria que é ter uma piscina de água mineral, uma pizza da Castália, um torresmo de barriga da Bitaca da Norte e um Barkowski sempre dentro dessa programação). No fim do mês, a convite da Suellen, participamos ainda da Feira do Livro do Colégio Catarinense e fornecemos carimbos para pré-adolescentes realizarem o sonho de fechar o braço com tattoos.
Em junho eu já não aguentava de saudade de Belo Horizonte e o Festival Nuh! me salvou. Além da feira (e do sanduíche de pernil do Barba Azul), teve um momento muito emocionante que foi o vídeo da Burocrata, produção de 2017 com a Meia Dúzia Filmes e o Estúdio Lamp, passando num telão na mostra de vídeos (eu AMO este vídeo com todas as forças) e um momento muito divertido que foi recriar o cartaz da feira com o kit de carimbos de retícula (que já deveria estar na loja virtual, né? mas eu sou monte).
Julho foi um mês mais caseiro e as feiras foram todas dentro da ilha de Florianópolis (o que nem sempre implica numa viagem mais curta): estivemos no Centro Cultural Veras na abertura da Rede Colaborativa Veras Veritas e aparecemos na TV!!! contando para a reportagem do Balanço Geral sobre os inocentes e divertidos Carimbos do Boi de Mamão. Na metade do mês, teve a Feirinha de Inverno da Cervejaria Refúgio e, no fim do mês, voltamos ao Veras para atividades de carimbar num fim de semana (que era pra ser mais voltada a crianças mas juntou uns quatro ou cinco adultos na mesa e se transformou num baita laboratório de artes gráficas). Outro momento de destaque foi ser suficientemente cara de pau e ganhar o desenho “vose e buro crata” do patrão Mozine (que, por sua vez, agora tem um fornecimento vitalício de carimbos).
Em agosto, deixamos uma porção de carimbos à pronta entrega na Escola de Escrita, lar oficial da nossa escritora interior, e (adivinha) teve feira também! Foi a vez de debutar em Joinville que, se antes nos fazia lembrar só do delicioso pastel do Rio da Prata, agora também nos faz pensar com o maior carinho também na Feira Bicicleta. No fim de semana seguinte, estávamos de volta no Centro Cultural Veras para uma edição do Veras Veritas que, junto com a feira, teve uma mesa de carimbar & aquarelar junto com o Nestor Jr. (uma das coisas que precisa acontecer de novo no ano que vem). Uma semana depois, estávamos na Livraria Divertida para uma oficina de carimbar com uma infinidade de insetos. No meio disso tudo, teve uma encomenda de 180 carimbos para um evento corporativo. O Mês Que Não Acaba Nunca passou rápido.
Setembro teve a Bienal de Quadrinhos de Curitiba e foram quatro dias de evento com os bizentos carimbos do Marx que a gente levou esgotando já no segundo dia. Dividimos a mesa com a Mau Gosto Corp. estreando também uma parceria +qd+ em produtos: um Foda-se (sim, a ideia é te permitir fazer uma coleção de foda-ses!) que foi testado em contas de luz durante todo o evento.
No começo de outubro, teve RelevOFest e a presença da Burocrata estava confirmadíssima, mas a chuva torrencial que abalou SC por todo o segundo semestre não deixou a gente chegar em Curitiba. Muita chuva também embalou a produção de carimbos para a feira E-cêntrica em Goiânia – a primeira vez da Burocrata por lá – que, além da feira, nos deu a honra do convite para ministrar uma oficina. Esse, inclusive, foi um dos pontos altos do ano: participantes quase indo embora do Centro Cultural Cora Coralina depois que a Larissa perguntou se elas tavam ali para a oficina de carimbó (um dia, quem sabe, role um pouco de cada :D). Num absoluto nervosismo, com medo de descobrirem que eu era uma farsa etc., teve um momento durante a oficina em que parei um pouco, olhei para as pessoas na mesa proseando entre si, trocando referência e fazendo amizade e entendi que era exatamente isso que tinha que acontecer (excelentes momentos de Pequenas Mortes Do Ego Em Feiras De Artes Gráficas).
Novembro seguiu no ritmo Darude - Sandstorm começando com a Feira Miolo(s), onde esta humilde carimbeira queria estar havia muito tempo (feiras dentro de bibliotecas como a Mário de Andrade!), com reposição dos carimbos à Banca Tatuí (outro belo lugar pra se estar em SP), e continuando duas semanas depois com a Mamute, em Curitiba, ocasião em que aproveitamos para conhecer o bonsai de Araucária e quase chorar de emoção. Também foi este o mês em que, nos poucos dias em que a chuva ensaiou uma trégua, o pneu da bicicleta furou e fez a gente ter que mandar encomenda pros correios pelo motoboy.
Em dezembro, teve mais Motim, dessa vez no Museu Nacional da República (feiras dentro de museus como o Nacional da República!!). Foi no ritmo de festa de fim de ano da firma (um problema ao qual a empreendedora solitária está bastante sujeita é o de, repentinamente, estar no bar propondo um amigo secreto da turma da feira) e contou com os já clássicos Água Mineral, Pizza da Castália, Barkowski e torresmo de barriga da Bitaca da Norte (que eu AMO com todas as forças). Uma semana depois, teve ainda a primeira vez da Burocrata em Porto Alegre na Feira Papelera (esse cenário!) e, já tentando instituir um clima de férias, um passeio de barco pelo Guaíba e um show da Ana Frango Elétrico (N. da E.: ela aceitou um monte de freela e ainda não teve férias). Antes de colocar a loja virtual em recesso, ainda reabastecemos a Letraria, onde nossos produtos estão à pronta entrega desde outubro.
Ficou faltando fazer um monte de coisa, mas ano que vem a gente continua! Entre os planos, estão: escrever mais (cartinhas como essas, especialmente; algo offline e material também, se possível); ir às feiras todas e a mais feiras ainda (100% noiada esperando ser aceita novamente e com medo de ter dito algo de errado em algum momento); dar mais oficinas (nos convidem!); e deixar mais carimbos em mais pontos de venda (conhece algum que combinaria? nos indique!).
Até a próxima carta (no ano que vem! heheee).
Dois mil e vinte e quatro beijos em seu coração,
Marceli
[ps.: contei meio por alto os carimbos vendidos pra ter uma ideia de quantos foram produzidos; a metodologia envolveu considerar cada unidade de carimbo mesmo, p. ex.: um Kit de Carimbos para o Escritor Autocrítico contando 4 carimbos. Foram 3.897 carimbos em 2023 (com um pico de 575 em novembro) e, por alguma razão, estou apenas cansada e a conta bancária não tem dinheiro sobrando. Pro ano que vem, consultoria financeira também.]